PTDC/SOC 28415/2017
PI: Verónica Policarpo // Co-PI: Ana Nunes de Almeida
O que é o projeto CLAN?
- Financiado pela fundação para a Ciência e Tecnologia (PTDC/SOC 28415/2017), este projeto visa compreender as relações entre crianças e animais, analisando as suas práticas afetivas, e discute os modos como estas se entrelaçam com outras práticas, ambientes e contextos, como os que estão implicados no ato de “cuidar” de um animal de companhia. As crianças e os animais de companhia são considerados como co-produtores de um mundo comum, em que as fronteiras do que é uma criança, e um animal, são construídas e permanentemente reconfiguradas.
O projeto usa métodos qualitativos para explorar estas relações e as suas dimensões afetivas, no contexto do grupo doméstico e da interação entre criança e adultos cuidadores. Às crianças será dada voz, pedindo-lhes que se coloquem “no lugar” do animal de companhia. Estes serão observados, nas suas relações com as crianças e o mundo natural e material que os rodeia. O projeto também envolve atores relevantes ligados quer ao mundo da infância, quer da vida animal: políticos, professores, psicólogos, pediatras, assistentes sociais, veterinários, e representantes das associações de bem estar animal.
O CLAN decorre ao longo de três anos, com início a 1 de Outubro de 2018, com uma equipa de oito investigadores, e um painel de consultores externos composto por três peritos internacionais.
RESUMO
De que forma crianças e animais de companhia constroem relações quotidianas que contribuem para desafiar, ou reproduzir, categorias dominantes e fronteiras estabelecidas entre mundos humanos e não humanos?
Este projeto explora esta questão, a partir de alguns factos que têm estimulado a curiosidade científica em torno do tópico: o contraste entre mudanças normativas relativas aos direitos e proteção dos animais, e o número massivo de cães e gatos errantes ou institucionalizados, devido a diferentes formas de abuso e negligência; a queda dramática das taxas de fertilidade e o menor número de crianças, a par da crescente centralidade destas na família, e do investimento parental na sua educação; lares que se tornaram ‘recreios tecnológicos’, onde as crianças aprendem e brincam, e ter um animal de companhia se torna uma opção para os que advogam uma ‘pedagogia experiencial’, percebida como um modo de recuperar a relação com a natureza e todo ‘um mundo que se perdeu’. Para além disso, desde a modernidade que crianças e animais partilham processos similares, embora desfasados, de reconhecimento enquanto sujeitos de direitos fundamentais.
Inspirado pela ‘teoria da prática’, e partindo de literatura interdisciplinar (estudos sobre a infância, afetos, amizade e sobre o humano/não- humano), o projeto tem como objetivo estudar as relações entre crianças e animais de companhia. Presta especial atenção às suas práticas afetivas, enquanto formas de construção de sentido corporificadas (embodied). Sugere-se que crianças e animais co-produzem os mundos nos quais estão inseridos, através de práticas que podem reproduzir, ou desafiar, a barreira inter-espécies. Avança-se a hipótese de que, quando estas relações são construídas como laços de família ou de amizade, essa barreira é questionada.
Outras questões mais específicas são: quais são as dimensões (educacionais, lúdicas, instrumentais) das práticas entre crianças e animais? De que modo estas práticas influenciam a criança e o animal, no desenvolvimento da empatia mútua? Como contribuem para desenhar as fronteiras do que é um ‘animal’, um ‘animal de companhia, ou um ‘amigo’? Como se entrelaçam com práticas parentais, educativas e do cuidar, da criança e do animal, bem como com o cenário material da casa?
Metodologicamente, o projeto segue um desenho qualitativo. A unidade de análise é a relação entre a criança e os animais de estimação (cães e gatos); às crianças será dada voz, e a sua relação com os animais será observada em contexto doméstico. A aproximação multi-método incluirá dados visuais e verbais, recolhidos através de observação direta, métodos visuais e participativos, e entrevistas com o apoio de fotografias.
O projeto desenvolve uma perspetiva sociológica que permaneceu pouco explorada: a relevância da relação criança-animal de estimação para ambas as partes; e como ela se constrói através de práticas afetivas. É o primeiro trabalho sobre o tema nas ciências sociais portuguesas.